Com a chegada do isolamento em 2020, diversos setores tiveram que se adaptar rapidamente. No universo dos games, porém, a pandemia foi mais do que um ajuste — foi um marco. Com tanta gente dentro de casa, os jogos deixaram de ser só passatempo. Viraram companhia diária, estrutura emocional e uma ponte para o mundo lá fora.
Agora, anos depois, com a vida voltando ao “normal”, algo curioso aconteceu: muitos hábitos criados naquele período seguiram firmes. Alguns evoluíram, outros se consolidaram. Neste artigo, vamos explorar como o período da pandemia mudou a forma como jogamos — e por que esses comportamentos continuam fazendo parte da cultura gamer.
Jogar para se Conectar
Foto battle.net
Antes de 2020, jogos online já eram populares. Mas com o distanciamento social, eles viraram ponto de encontro. Títulos como Animal Crossing: New Horizons, Among Us e Call of Duty: Warzone não eram apenas jogos — eram festas de aniversário, bate-papos no fim do dia, encontros entre amigos distantes.
Nessa fase, os jogos passaram a ocupar o espaço do barzinho, da visita ao amigo, do café na esquina. Essa relação afetiva com o ato de jogar deixou um legado: até hoje, muitos jogadores dão preferência a títulos com foco em experiência compartilhada, com voz integrada e modos cooperativos.
O que ficou:
- Jogos com forte componente social continuam em alta.
- A demanda por experiências conectadas cresceu e virou critério de escolha.
Horários Flexíveis, Jogabilidade Flexível
Com o home office e as aulas virtuais, as rotinas ficaram menos rígidas. Jogar no meio do dia deixou de ser exceção e virou parte da rotina de muitos. Jogos mais dinâmicos, como Fall Guys ou apps de celular, ganharam espaço por encaixarem perfeitamente nesses intervalos entre tarefas.
Com isso, ganhamos novos hábitos:
- Preferência por jogos com partidas curtas e fáceis de retomar.
- Valorizamos jogos que permitem transitar entre dispositivos (console, celular, PC) sem perder progresso.
Mesmo com o retorno à rotina, a ideia de que o jogo precisa respeitar o tempo do jogador segue viva. Ninguém mais quer ficar “preso” por três horas em uma missão obrigatória.
A Expansão do Público Casual
Uma das mudanças mais notáveis foi a chegada de novos rostos ao mundo gamer. Pais, mães, avós, crianças — gente que nunca tinha segurado um controle antes — começaram a jogar, muitas vezes em busca de leveza e distração. E o mais curioso: esse público ficou.
A indústria respondeu com:
- Interfaces mais intuitivas.
- Dificuldade adaptável.
- Narrativas acessíveis para quem não é hardcore.
Essa inclusão mudou o foco de muitos estúdios, que hoje desenvolvem pensando em níveis múltiplos de experiência, agradando desde o iniciante até o veterano.
O Boom dos Streams e do Jogo Passivo
Foto twitch.tv
Streamar não é novidade, mas durante a pandemia virou rotina. Twitch, YouTube e outras plataformas bateram recordes de audiência. Muita gente assistia não pelos jogos em si, mas pela companhia, pelo senso de comunidade.
Isso gerou uma nova relação: o jogador que não joga. O espectador que se diverte vendo o outro jogar. O chamado “jogo passivo”.
E hoje?
- Jogos pensados para serem assistidos cresceram.
- Recursos como integração com o chat e modo espectador viraram diferençial.
- Estúdios planejam lançamentos já pensando em como o jogo vai render em lives.
Emoção Acima da Competitividade
Num período tenso, os jogadores procuraram jogos com histórias, emoção e sensação de aconchego. Spiritfarer, Hades, Life is Strange: True Colors fizeram sucesso porque falaram direto com o coração.
Essa fase deixou uma herança emocional. Mesmo com os jogos competitivos dominando os rankings, há espaço consolidado para experiências mais calmas, envolventes e humanas — e esse público só cresce.
Resultado:
- Histórias bem contadas ganham mais valor.
- Jogos que oferecem “espaço seguro” conquistam nichos fiéis.
Hábitos que Vieram para Ficar
A pandemia acelerou comportamentos que agora são parte da cultura gamer. Alguns exemplos:
- O jogo como rotina: Check-in diário, progressão contada em dias, missões curtas. Jogar virou parte do dia como abrir o Instagram.
- O jogador híbrido: Hoje, a mesma pessoa joga, assiste, comenta e cria. Ser gamer não é só jogar, é estar dentro do ecossistema.
Considerações Finais
A pandemia virou nossa rotina de cabeça pra baixo — inclusive a maneira como a gente joga. O que no começo foi improviso virou estilo. Hoje, jogamos com mais propósito, buscamos mais conexão e reconhecemos os games como parte importante da vida digital.. Jogamos de um jeito diferente, mais conectado, mais sensível e mais diverso.
O mundo dos games hoje é reflexo dessas mudanças. E mesmo que a quarentena tenha acabado, muitos dos hábitos que ela trouxe continuam com a gente, firme no controle.